Chegou a hora de eu contar uma coisa. Uma das razões pelas quais decidi fazer este casamento. É claro que tenho as mesmas razões de todas as noivas: a alegria -- por haver encontrado a pessoa que quero chamar de minha companheira pelo resto da vida; a esperança -- que essa pessoa fez nascer em mim, de o futuro será melhor do que o passado; o amor -- tão grande que exige explodir e ser transformado em festa, para ser compartilhado com o mundo.
Mas há outro motivo. Talvez nem seja algo tão particular assim. Talvez esteja na cabeça de todas as noivas e noivos, de forma mais velada. A diferença, então, talvez seja que, para mim, ele sempre tenha sido um fator muito evidente, e até decisivo, para que eu finalmente arregaçasse as mangas e fizesse esta celebração acontecer.
Chegou a hora de contar que, quando comprei meu vestido de noiva, em São Paulo, eu não estava lá a passeio. Eu estava, junto com meus pais, acompanhando o tratamento do meu irmão caçula, internado no Hospital do Coração. Ele sofre de algums problemas congênitos que foram descobertos tarde, mas, felizmente, não tarde demais. Na época, enfrentamos mais de 20 dias só de UTI, e ele passou por três intervenções cirúrgicas em duas semanas.
Foi num dia especial (terrível e maravilhoso ao mesmo tempo, quando os médicos nos deram a notícia de que o meu irmão poderia ter ido, mas não foi, graças ao desfibrilador) que eu, a caminho de mais uma visita de 15 minutos à UTI, me dei conta: é fácil postergar uma das comemorações mais importantes da sua vida se você acredita que todos os seus entes queridos estarão sempre aqui para festejar com você. É fácil deixar essas coisas pra depois, quando você não se lembra de que a morte vem para todos nós, e sem hora marcada.
Foi quando tomei uma forte resolução: "quero todas as pessoas que eu amo hoje presentes no meu casamento. Chega de fingir que a morte espera, ou que ela nunca vem. Se o Rômulo e eu vamos nos casar um dia mesmo, que esse dia possa ser vivido com todos que amamos agora."
No dia seguinte, eu comprei meu vestido. E, depois que meu irmão voltou pra casa, o noivo e eu começamos a preparar o nosso casamento.
Como fica patente, eu sou muito ingênua. Acreditei, como muito se acredita, que meus planos eram suficientes para salvaguardar a realidade que eu desejava. E, como sempre acaba acontecendo, a realidade se impôs sobre a fantasia.
Na semana passada, faleceu o pai do noivo, meu sogro.
Eu fui tola. Fui tola por acreditar que era possível me adiantar à morte.
Mas não quero parecer amargurada. Não tenho arrependimentos nem mágoas do mundo. Nosso casamento continuará sendo uma celebração do presente, uma declaração do nosso amor e da nossa realização pessoal por havermos encontrado um ao outro. E, do meu erro anterior, aprendi a valorizar ainda mais a presença física daqueles que amo. Será ainda mais especial contar com eles naquele dia.
De fato, a morte nos ensina muitas lições preciosas sobre a vida.
Obs: Devido à correria dos últimos preparativos, o blog não será mais atualizado diariamente, mas todas as segundas, quartas e sextas, e sempre que sobrar um tempinho adicional para passar aqui. Obrigada pela compreensão. ;)
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